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Músicas da 1ª Fampop precisaram de aprovação prévia da censura federal

Informação foi revelada pelo produtor Juca Novaes por ocasião dos 60 anos do golpe militar que instaurou no país ditadura com duração de 21 anos 

Flávio Mantovani

O Brasil ainda vivia uma ditadura militar quando a 1ª Feira Avareense da Música Popular (Fampop) foi realizada em julho de 1983.

Por conta disso, as letras das músicas que seriam apresentadas naquela edição tiveram que ser previamente submetidas ao Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP), órgão da Polícia Federal responsável pela liberação de peças de teatro, discos e livros, entre outros produtos artísticos.

A informação foi revelada pelo produtor Juca Novaes, presidente da Comissão Organizadora da 1ª Fampop, por ocasião dos 60 anos do golpe militar que instaurou uma ditadura no Brasil em 31 de março de 1964.

“Para quem não sabe o que é viver sob um regime de exceção, eis meu testemunho”, ressaltou o músico, que publicou em suas redes sociais o requerimento em que ele pedia a liberação das canções ao SCDP de São Paulo.

Vencedora teve gravação proibida

Caso curioso é o de “Peleja”, canção de Genésio Sampaio, hoje Genésio Tocantins, que saiu vencedora da 1ª Fampop.

Embora tenha sido autorizada para o festival, uma eventual gravação da música foi proibida pela censura.

“Esse é apenas um microcosmo do que era viver em um regime de exceção”, continua Novaes em sua postagem.

A letra de “Peleja” tem versos como “Eu sou do Norte/E canto as coisas da terra/Sou de paz, mas vindo a guerra/Tô pronto pra guerrear”.

“É inacreditável que, 60 anos depois do início dessa ditadura que durante 21 longos anos torturou, matou, censurou, proibiu, cassou, exilou, prendeu, fez “desaparecer”, “suicidou”, ameaçou, baniu inúmeros brasileiros, ainda não tenhamos aprendido a lição. Ditadura nunca mais”, escreveu o cantor e compositor avareense.

Tempos de mudança

A 1ª Fampop foi realizada num momento de abertura política, às vésperas da redemocratização do país.

A juventude da época estava atenta aos sinais dos tempos. O novo cenário que se anunciava parecia propício para novidades em todos os campos da sociedade, da política à cultura.

“Apesar dos momentos difíceis em que vivemos, eu ainda creio na juventude, que com as próprias mãos e suas cantigas, busca construir um mundo com mais amor, mais justiça, paz e liberdade”, discursou Genésio Tocantins na final da edição histórica.

Vamos engarrafar essa energia?”

O grupo paulistano Premeditando o Breque foi uma das atrações da 1ª Fampop. Em entrevista ao Fora de Pauta, o vocalista Wandi Doratiotto disse ter ficado impressionado com o clima que imperou na edição de 1983.

Parecia a confirmação de que as coisas estavam mesmo mudando, o que levou o músico a fazer uma piada no camarim.

Vamos engarrafar essa energia e levá-la até os centros de poder, pra mostrar como a juventude não suporta mais essa maldita ditadura”, rememorou o artista na ocasião.

Censura federal autorizou “Peleja” no festival, mas proibiu gravação da música 

 

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