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“Meu pai morreu desejando voltar pra Piraju”, revela herdeira de “Fio de Cabelo”

Filhos do compositor sertanejo Darci Rossi trabalham atualmente na organização do material inédito deixado pelo autor que faleceu há um ano

FLÁVIO MANTOVANI

Certa vez, o compositor Darci Rossi, autor de “Fio de Cabelo”, acompanhava a dupla Chitãozinho e Xororó no programa de Raul Gil. Enquanto aguardavam nos bastidores, Rossi decidiu ir ao camarim do apresentador para conhecê-lo pessoalmente. Tomou coragem, bateu na porta.

O comunicador mandou abrir e o compositor foi logo se adiantando, a fim de evitar qualquer embaraço. “Oi, Raul. Eu queria te conhecer. Acho que você não sabe quem sou”, disse o homem magro, de personalidade pouco expansiva.

Gil se levantou; olhou bem nos olhos do sujeito. Em seguida, abriu os braços e deixou escapar o sorriso fácil. “É claro que te conheço, Darci. Você é considerado uma das pessoas mais honradas do meio artístico. A honra é minha de conhecê-lo pessoalmente”, devolveu o apresentador.

A passagem ilustra a deferência ao homem recluso e praticamente desconhecido do grande público, mas que faz parte da vida de milhões de brasileiros. Neste sábado, 20, completa-se um ano da morte do autor de “60 Dias Apaixonados”, “Deixei de ser cowboy por ela” e muitos outros sucessos que marcaram a música sertaneja. Ele vivia em Valinhos.  

“Quando a gente ama e não vive junto”

Mineiro de Guaxupé, Darci Rossi morou em Piraju entre 1985 e 1994, onde paralelamente ao ofício de compositor foi proprietário de uma concessionária de veículos. Ele também chegou a ter um sítio em Sarutaiá.

Dali se mudou para Campinas, mas deixou algo pra trás. “Ele amava Piraju e morreu desejando voltar pra lá um dia. Não houve tempo. Mas ainda cultivamos amigos maravilhosos e familiares na cidade”, revela ao Fora de Pauta a filha Fernanda Natércia Rossi.

Os herdeiros atualmente trabalham na organização do material deixado pelo pai. “Existem muitas músicas inéditas que podem ser utilizadas em projetos futuros. No Brasil, infelizmente, a mídia não divulga o nome dos compositores, que ficam relegados a segundo plano, como se os sucessos acontecessem apenas com os cantores”, lamenta o filho Elton.  

Importância

Darci Rossi escreveu cerca de 400 composições ao longo da vida e foi interpretado por João Mineiro e Marciano, Sandy e Júnior, Victor e Léo e Trio Parada Dura, entre muitos outros artistas. Embora boa parte tenha feito sucesso, foi “Fio de Cabelo”, canção que escreveu em parceria com o cantor Marciano, que o colocou de vez no mapa da Música Popular Brasileira.

Diz a lenda que a música foi oferecida antes a três artistas, que não quiseram gravá-la. Chitãozinho e Xororó então a colocaram no disco “Somos Apaixonados”, de 1982. Ela aparece como a faixa dois, já que a dupla achou que a música não chamaria a atenção caso fosse escolhida como o título do álbum.  

Foi um estouro: vendeu 1,5 milhão de cópias só nos meses seguintes ao lançamento. Além de ter lançado os irmãos ao estrelato, “Fio de Cabelo” abriu a portas para as FMs, onde a música sertaneja não entrava por conta do preconceito contra o estilo. O crítico musical Zuza Homem de Mello escreveu que composição trouxe ainda outras temáticas para o gênero.  

Não por acaso, várias estrelas da música se manifestaram na ocasião da morte de Darci. “Dentre suas mais de 400 canções gravadas, o nosso grande sucesso “Fio de Cabelo”. Para sempre em nossos corações”, disseram Chitãozinho e Xororó em comunicado na época.

A recíproca era verdadeira. “Meu pai tinha um carinho enorme e os considerava como membros da família. Se referia a eles como ‘os meninos’”, conclui Fernanda. 

2 thoughts on ““Meu pai morreu desejando voltar pra Piraju”, revela herdeira de “Fio de Cabelo”

  • OSVALDO THOMAZ

    Estou emocionado!!! Passou-me um grande filme agora!!! Cheguei a conhecer os “meninos” ainda muito novos, na cada do Darcy em Campinas (Jr.Chapadão) em um churrasco o Darcy disse-me: “aqueles meninos irão gravar uma linda música feita por mim”…Entrei na FGM em 1975 isso foi um pouco depois… Meu grande parceiro também foi o F.A.Rossi, que depois de muitos anos p/ matar a saudades e eu já em outra montadora de carros, fui até Piraju e os procurei e conversamos no Bar do irmão ali em frente a praça. Eu, queria ver também o Darci pessoalmente (tinha voltado p/ Campinas). Certa noite liguei na residência prometendo uma visita, e que pena não ter acontecido em função do “trabalho”…fico triste!!! Darci foi um dos 03 melhores gerentes/companheiro e conselheiro que tive na vida!!! A música “Fio de Cabelo, como o Darcy”, inesquecível e no coração por toda vida!!! Fiquem todos com Deus. Aceitem o abraço do OSVALDO THOMAZ.
    10/07/2020

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  • Maurício

    Legal é poder ver histórias como essa, de gente da região ou “importada” que tem todo um legado desconhecido da maioria da população e que merece ser valorizada. O interior, principalmente nossa região, tem todo um patrimônio a ser garimpado, resgatado e conhecido. Parabéns, Flavinho!

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