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Artistas de Avaré saem em defesa de Djanira após Veja chamar sua obra de medíocre

Na matéria “Raízes sem Força”, jornalista Marcelo Marthe afirma que a mostra da avareense no Masp  “não redime a mediocridade de sua arte”

Da Redação

Artistas de Avaré saíram em defesa da pintora Djanira Motta e Silva (1914-1979) depois que a Veja publicou em seu site um texto que classifica como medíocre a obra da pintora avareense.

Na matéria “Raízes sem Força”, o jornalista Marcelo Marthe afirma que a mostra “Djanira: a memória de seu povo”, em cartaz no Museu de Arte de São Paulo (Masp), “não redime a mediocridade de sua arte”.

Autodidata, Djanira pertence à segunda fase do modernismo, movimento que trouxe a cultura popular para o campo da arte. No entanto, por não ter formação acadêmica como Tarsila do Amaral, por exemplo, a avareense costuma ser associada – muitas vezes pejorativamente – à arte naif, aquela desenvolvida por pessoas que não têm conhecimento das técnicas formais.  

Para Marthe, a exposição “incorre, ainda, na tentação capciosa de fazer crer que eventuais qualidades humanas de um artista lhe confeririam automaticamente um selo de excelência”.

Reações  

As reações, contudo, não demoraram a aparecer. Em texto enviado à redação da Veja, o escritor Gesiel Júnior, biógrafo de Djanira, afirmou que “quem certamente tem fraqueza nas próprias raízes é o articulista Marcelo Marthe”.

“Portanto, ele não vê e não sabe reconhecer, devido à mediocridade de sua limitada ótica, o genuíno talento artístico da grande artista nacionalista nascida em Avaré. Pena que a Veja abra espaço para críticas infelizes e inconsequentes, as quais nada acrescem à já desprezada arte brasileira”, escreveu.

Premiado no Brasil e no exterior, o cartunista Luiz Carlos Fernandes também defendeu o legado da conterrânea em entrevista ao Fora de Pauta.  

“Toda crítica é muito subjetiva e por isso não se deve levar a sério. Fico com a crítica do Washington Post nos anos 40 quando ela fez uma exposição nos EUA e chamou a atenção pelas cores e temas”, lembra Fernandes, que no ano passado lançou um livro em parceria com Gesiel que conta a história da artista em quadrinhos.

Paulistano radicado em Avaré, o artista plástico Waldir Bronson chamou o texto de “ofensivo”.

“Djanira não é um simples clichê do modernismo como o autor disse. Sua arte representou e muito bem a cultura brasileira em todos os âmbitos, principalmente os sociais e religiosos. Comparo o texto deste Marcelo Marthe na revista Veja ao texto publicado no jornal Estadão por Monteiro Lobato contra Anita Malfatti. Mas isso foi há mais de 100 anos”.

Em dezembro de 1917, Lobato escreveu uma crítica demolidora sobre a exposição que a pintora modernista fazia em São Paulo. Embora reconhecesse na ocasião o “talento vigoroso” e “fora do comum” de Anita, o célebre escritor chamou sua arte de “anormal”, entre outros adjetivos.

Apesar do estardalhaço que causou na época, o artigo é visto hoje como um exemplo de provincianismo e da incapacidade de Lobato para compreender a relevância do movimento nascente que desembocaria na histórica Semana de Arte Moderna de 1922.

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