Notícias

Duofel na Casa do Músico: um acerto de contas com a Fampop

Tudo seguia conforme o roteiro até que o músico Luiz Bueno pegou o microfone: precisava dizer algumas palavras sobre o festival avareense

FLÁVIO MANTOVANI

Era pra ser apenas uma grande apresentação. Duofel, lenda da música instrumental brasileira reconhecida no mundo todo, atração na Casa do Músico Avaré no último sábado, fazia o que está acostumado a fazer em qualquer show: impressionar o público com seu virtuosismo e musicalidade exuberantes.

Tom Jobim, The Beatles, Dorival Caymmi: ninguém sai ileso da interpretação singular dos músicos Luiz Bueno e Fernando Melo. Nem eles mesmos, nem as próprias canções.

Tudo seguia conforme o roteiro até que Bueno pegou o microfone. Precisava dizer algo. Era 1987. O Duofel, já com quase dez anos de carreira, vivia um momento de entressafra. Eram tempos de incertezas. O Brasil tinha acabado de sair de uma ditadura militar. A hiperinflação corria à solta. A política parecia mais importante que a cultura, historicamente relegada a segundo plano num país de capitalismo periférico como esse. A saída, como sempre, era o aeroporto.  

Foi então que os músicos decidiram inscrever uma música na Fampop, que recepcionava a categoria instrumental pela primeira vez. Era a chance de dar uma impulsionada na carreira. O festival, que já despontava como um dos mais importantes do país, seria a mola propulsora.  

Fernando e Luiz não queriam deixar a chance passar. Isolados no quarto do hotel, passaram horas ensaiando “A Fuga de Djanira Metralha (2º Movimento)”, que defenderiam naquela noite.

Mas a concorrência era dura. Bons conjuntos musicais, incluindo o Placa Luminosa, estavam no páreo. Aqueles dois esquisitões com violões a tiracolo pareciam estar fadados a comer poeira.

A desconfiança durou um minuto e meio. “Silêncio marcante no festival”, continuou Luiz, já visivelmente emocionado. O resto é história. Anos depois, eles voltariam como atração do festival.  

Um ato simbólico, no entanto, pôs fim à narrativa: os músicos fizeram questão de apresentar ao público o troféu que ganharam naquele longínquo 1987. A ocasião especial exigia que ele fosse trazido de volta para Avaré.

Isso mesmo. O artigo estava o tempo todo ali, no pequeno palco que faz da Casa do Músico um ambiente tão intimista e raro. E ninguém havia notado. Nem mesmo o compositor Juca Noves, produtor daquela edição, que acompanhava a apresentação. Só restou ao público aplaudir a homenagem.

Mas as palavras logo dariam lugar à música instrumental. O show tem que continuar. Ou como prefere a dupla: não tem esse negócio de instrumental. Música é música. Ponto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Para reproduzir nosso conteúdo, entre em contato pelo contato@foradepauta.com