Reportagens

Morador transforma terreno abandonado em área de lazer

Tomado pelo mato até 2014, imóvel municipal localizado no Bairro Ipiranga, em Avaré, era ponto de descarte de entulho e lixo, além de criadouro para animais peçonhentos

FLÁVIO MANTOVANI

A área verde localizada na extremidade da Rua José Forte, no Bairro Ipiranga, em Avaré, teve seu destino selado depois de um incidente.

Encurralado entre a via e o muro alto de uma propriedade particular, o imóvel municipal não passava de um ponto para descarte de todo tipo de trambolho, além de terreno fértil – literalmente – para a proliferação de mato, erva daninha e animais peçonhentos.  

Um dia alguém decidiu colocar fogo em jornais velhos em meio ao matagal. As chamas se alastraram até perto do pavimento, ameaçando os veículos ali estacionados. Correria. Uma vizinha apareceu com uma mangueira vertendo água para ajudar no combate ao incêndio, que acabou controlado depois de algum esforço.  

A passagem foi determinante para que o funcionário público Paulo Vicente Dafara, 56, resolvesse tomar para si a responsabilidade de cuidar do imóvel que, em tese, deveria estar sob os cuidados da administração municipal.

Não que o episódio tivesse sido o único motivo. “Gosto muito de mexer com a terra. Fiz isso a vida toda e me sinto bem”, revela o morador ao Fora de Pauta.

Dafara, cuja residência fica a poucos metros da área verde, conta que começou o trabalho em 2014. Primeiro foi necessário recolher o entulho e o lixo. Em seguida, teve início a capina e a manutenção do espaço, para a qual ele conta com a ajuda da esposa Helena. Tudo foi sendo feito aos poucos, já que o avareense só pegava no batente após o expediente.  

Naquela praça, naquele banco

Hoje, o imóvel exibe espécies como Ipê Amarelo, Ingá, Pitanga, Cereja, Acerola, Pau Brasil e Hibisco, todas adquiridas e plantadas pelo funcionário público.

Mais ao fundo, sob a sombra generosa de uma grande árvore, há uma mesinha redonda com seis bancos chumbados no concreto, além de outros feitos de madeira.

O que era matagal virou uma área de lazer frequentada moradores da localidade. “O pessoal vem tomar uma cervejinha aqui. Minha vontade agora é fazer balanços para as crianças”, conta o munícipe, que se diz feliz com o resultado.

Dafara lamenta, no entanto, que a reportagem tenha aparecido logo após uma temporada de chuvas. “Não deu pra passar o rastelo essa semana”, diz o servidor, que atua como guarda no Horto Florestal.  

Além de não ter tido condições de amontoar galhos e folhas, o entrevistado aponta outro motivo: há poucos dias, ainda era possível ver a florada de algumas espécies.  

Aviso

O condutor que entra por acaso na Rua José Forte, um via estreita tipicamente residencial, e segue até o final vai dar de cara com uma placa com a seguinte inscrição: “Área verde cuidada e mantida pelo morador Paulo Vicente Dafara, casa 26”.

Embora afirme que tenha custeado sozinho todo o empreendimento, que exige gastos com esterco, mudas e o obrigou, inclusive, a adquirir uma roçadeira para facilitar o trabalho, o morador diz que não faz questão de por o investimento na ponta do lápis.

Para ele, a diminuição de visitantes indesejados como cobras, aranhas e escorpiões – comuns no passado, o prazer de lavrar a terra e o reconhecimento de vizinhos e curiosos já fazem o esforço valer a pena. Recentemente, Dafara foi entrevistado pela TV Tem e recebeu elogios do vereador Francisco Barreto durante uma sessão.

Mas o guarda nega que tenha colocado a placa apenas por capricho pessoal. “As pessoas de fora ficam sabendo que tem alguém cuidando e que esse alguém mora perto. Por isso, ninguém vai querer fazer bagunça”, finaliza, sem perder a vigilância.  

One thought on “Morador transforma terreno abandonado em área de lazer

  • Maurício

    Parabéns ao Sr. Paulo pela atitude rara de cidadania. Se não me engano, havia um projeto incentivando a iniciativa privada a adotar praças em contrapartida tendo a exploração de espaço publicitário, não sei que fim deu esse projeto pela câmara, mas seria uma boa, principalmente vendo em meu caminho diário a pequena praça Raquel Ferrante sem calçada, bancos, árvores, flores e tomada de capim alto, apenas uma placa indicativa de praça contrastando com a imagem.

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