Especial

Autoria de “Boate Azul” é reivindicada para compositor que viveu em Manduri

Segundo versão difundida na cidade, músico Benedito Simão da Costa, o Naraí, teria vendido a música antes de registrá-la em seu nome; canção sertaneja se transformou num dos maiores clássicos do gênero

Flávio Mantovani

Quem nunca cantou “Boate Azul” num churrasco de família? Ou, doente de amor, tomou todas a ponto de dormir no balcão do boteco? Ou ainda se viu enxotado do estabelecimento enquanto as portas eram fechadas?

Unanimidade nacional desde que foi gravada por Joaquim & Manuel em 1985, a música ultrapassou o cancioneiro sertanejo e se fixou no inconsciente coletivo dos brasileiros, condição reservada apenas a um seleto grupo de canções.

Só há um lugar no país onde “Boate Azul” não é unanimidade: na cidade de Manduri. E não se trata de reservas em relação à sua aura boêmia: a controvérsia diz respeito à sua autoria. Segundo uma versão bastante difundida no município, “Boate Azul” foi composta pelo músico manduriense Benedito Simão da Costa, o Naraí, e não por Benedito Seviero e Tomaz, que constam como os autores oficiais.

Naraí, que fez parte do conjunto Os Amantes do Luar, teria mostrado a canção a um executivo de uma gravadora da capital, que demonstrou interesse em comprá-la. Eram tempos de labuta e o músico aceitou abrir mão da autoria em troca de uma pequena compensação financeira.

Ex-parceiro de Naraí, o cantor Euclides Araújo, o Quidu, afirma que ouviu a história do próprio compositor. “Isso (esse tipo negociação) é normal em São Paulo”, disse Quidu em entrevista ao programa Revista de Sábado, da TV Tem, afiliada da Rede Globo.

Outro compositor

Já o músico Marcelo Enrique Cabral, que tocou com Naraí no Carnaval de 1993, defende outra versão. Segundo o guitarrista, a letra da música teria sido feita pelo também compositor manduriense João Fordinho. Naraí teria se encarregado apenas da melodia e de posteriormente vender a composição a preço de banana em São Paulo. “Ele nos contou isso. Os outros três que tocavam com ele também escutaram a história”, afirma Cabral ao Fora de Pauta.   

Embora continue na liderança dos karaokês país afora, em Manduri e região “Boate Azul” continua associada à figura de Naraí. E defender seu legado – assim como o de Fordinho – faz parte do cotidiano do manduriense. A música foi entoada por parentes e amigos durante o enterro do cantor, que morreu em outubro de 2000.

O mais curioso é que Naraí e o então parceiro Tião Vilela foram responsáveis por aquela que é considerada a primeira gravação de “Boate Azul”, três anos antes do estouro nacional. Seria uma tentativa – ainda que tardia – de reaver a música? Ou apenas uma coincidência que reforça o folclore difundido na terra natal do artista?

Como Fordinho e os compositores oficiais também já morreram, a polêmica segue sem um desfecho. A reportagem entrou em contato com a dupla Joaquim & Manuel, mas não obteve retorno até a conclusão desta reportagem. 

Morte no palco

O grupo Os Amantes do Luar (foto), do qual Naraí fazia parte, obteve relativo sucesso nos 70 e 80. Durante a última fase da vida, já restabelecido em Manduri, o artista – que era um talentoso multi-instrumentista, além de intérprete singular – dava aulas de violão e contrabaixo. Ele também foi radialista e baterista dos Bailanteiros, grupo de forró que ficou bastante conhecido na região nos anos 90.

Durante uma apresentação em Bernardino de Campos, os companheiros de banda perceberam que havia algo errado com o ritmo. Pensaram, a princípio, que se tratava de mais uma brincadeira do parceiro, que costumava acertar com força os pratos durante o intervalo dos shows só para dar um susto no público.

Naraí, no entanto, havia desabado sobre os tambores. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu. O homem que passou a vida cantando a dor do amor e as desventuras do coração foi calado por um infarto fulminante.

7 thoughts on “Autoria de “Boate Azul” é reivindicada para compositor que viveu em Manduri

  • Celso Henrique Silveira

    Trabalhei com o irmão do Natal onde o mesmo me disse que dormia no mesmo quarto do irmão, quando Naraí do lado de tua cama em uma noite começou a escrever a musica. Quando o irmão Jesus acordou pela manhã viu muitos papeis amaçados jogados ao chão e a música já estava pronta. Aí disse que o irmão logo depois teria vendido a música por muito pouco e logo depois a música estourou.Hoje moro no Mato Grosso e aqui até hoje essa música é um grande sucesso

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  • Meu nome e Marcelo, e fui citado na reportagem, pois ouvi do proprio narai com quem toquei, e tenho mais duas testemunhas(outros dois musicos), que estavam comigo e podem confirmar a veracidade do depoimento emocionado do mesmo, JOAO FORDINHO, um desconhecido musico aqui de manduri, ja falecido, o qual tem inclusive uma irma chamada Marlene que reside uma quadra e meia acima de minha casa, foi de fato o compositor da boate azul, assim como tambem devolva a passagem, Marlene possui um caderno ou (s) com varias musicas ineditas do compositor falecido, porem ela garante, so vende ao preço que melhor lhe convier, levando em conta que esse tipo de musica e letra nao esta mais em moda e nao vai mais emplacar, esse conteudo se torna sem valor.

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  • Clávio Luis Pereira compositor e intérprete

    Eu ainda muito criança ouvi da boca do próprio João fordinho que está música iria estourar no Brasil inteiro mas que o Narai teria optado em gravar outra música de autoria dele”Somente Ágora eu vejo” que de fato estourou mas não teve o mesmo alcance de boate azul gravada um ano depois do lançamento de somente agora eu vejo.

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  • Maurício

    Esses dias fiquei sabendo de uma história que me fez lembrar desta. Compositores e cantores em busca de sair do anonimato no universo caipira, frequentavam o Largo do Paissandu em SP, lá também costumavam a aparecer pessoas já consagradas, ligadas do meio e de programas de rádio, como o “Na beira da tuia”, sendo que composições eram oferecidas por ínfimo valor, o que leva a crer que deva existir várias outras canções cuja a autoria não é bem a que aparece no encarte dos “bolachões”.

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    • Darci Laurindo Barbosa

      Sou o cantor Pantanal e fui o primeiro parceiro de Narai entre 1966 e 67 na Radio Difusora de Piraju, hoje Radio Piratininga, nossa dupla se chamava Nino e Neno (Neno era o apelido de família do Narai). Logo depois de conhecer João Ferreira Neno foi vom ele pra São Paulo e formaram o trio Os amantes do Luar “João Ferreira, Narai e Luiz Migueira”
      Por diversas vezes ele me confidenciou essa versão sobre a composição de obra Boate Azul.

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    • Celso Henrique Silveira

      Trabalhei com o irmão do Natal onde o mesmo me disse que dormia no mesmo quarto do irmão, quando Naraí do lado de tua cama em uma noite começou a escrever a musica. Quando o irmão Jesus acordou pela manhã viu muitos papeis amaçados jogados ao chão e a música já estava pronta. Aí disse que o irmão logo depois teria vendido a música por muito pouco e logo depois a música estourou.Hoje moro no Mato Grosso e aqui até hoje essa música é um grande sucesso

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    • Marcos Mozoni

      Conheci João fordinho, quando trabalhei na rádio piratininga de piraju, eu era operador de som na época

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