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Saxofonista Derico fez churrasco com carneiro que foi esquecido em Avaré por Sá e Guarabyra

Passagem ocorrida num hotel pouco antes da final da Fampop de 1994 foi narrada no programa comandado pelo ex-integrante do sexteto de Jô Soares

Flávio Mantovani

O músico Derico, que integrou o sexteto de Jô Soares, tomava café da manhã quando o garçom se aproximou.

Fazia sol em Avaré naquele domingo de 1994. Logo mais, aconteceria aquela que é apontada como a mais icônica final da Feira Avareense da Música Popular (Fampop), encerrada por ninguém menos que Tim Maia.

“Dericão, vem cá. Quero te mostrar um negócio”, confidenciou o funcionário do hotel. Quando chegaram à cozinha, o homem abriu a câmara fria e apontou o volume num canto: sobre uma travessa enorme, jazia um carneiro aberto, já temperado, que parecia implorar para ser preparado.

O garçom explicou que a peça havia sido deixada pra trás por dois cabeludos que estiveram no festival. Ao contrário do combinado, a dupla tomou café e caiu na estrada sem colocar a carne na mala.

Derico, que sempre deu seus pitacos na cozinha, logo cresceu o olho. Os músicos que participavam da feira estavam reunidos no hotel. A ideia era armar um churrasco pra toda galera, meio de surpresa.

“Isso dá um manjar dos deuses. Vamos fazer”, cravou o saxofonista, integrante do júri daquela edição do festival, um dos mais importantes do país.

Enquanto preparava o assado, a produtora da estrela daquela noite trouxe um recado ao mentor do menu. Tim Maia, enclausurado em seus aposentos, queria que Derico fosse até seu quarto.

O músico tremeu na base. Embora já fosse relativamente conhecido devido ao trabalho no programa de Jô Soares, era a primeira vez que falaria tetê à tête com o ídolo.

Encontrou um Tim extrovertido que o convidou para tocar flauta. Derico avisou que estava no meio do preparo de um churrasco e devolveu o convite, chamando o cantor para descer até a piscina junto com ele.

Mas Tim não estava muito animado. A produtora ainda tentou convencê-lo, mas não rolou.

O rango saiu por volta das 4 da tarde e reuniu um elenco de peso. Entre uma conversa e outra, Flávio Venturini e Toninho Horta davam sua contribuição na churrasqueira.

A passagem ficou na memória de Derico, não apenas pela performance mitológica de Tim Maia naquela final (confira a matéria aqui), mas pelo conjunto da obra.

“Esse domingo de 1994 foi muito importante pra mim. Eu era presidente do júri do festival ao lado de figuras como Zuza Homem de Mello, fiz churrasco com Flávio Venturini e Toninho Horta e ainda tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o Tim Maia”, justifica o músico.

O relato sobre a passagem em Avaré pode ser conferida no programa “Tempo de Música”, que Derico apresenta no YouTube. A informação de que a Fampop foi pauta na atração foi noticiada pelos jornais A Comarca e O Victoriano.

Ah, sim: os cabeludos ruins de memória eram Sá e Guarabyra. A dupla tinha subido ao palco da Fampop na noite anterior. Não se sabe de onde apareceu a carne, talvez presente de algum fã local.

A história por trás da história

O Fora de Pauta conseguiu falar com Guarabyra depois da publicação desse texto. Ele confirmou que o carneiro foi um presente e revelou por que ele e o parceiro não levaram a peça.

“Deixei no freezer do hotel. Nós tínhamos show no dia seguinte em outro estado. Precisamos sair pra estrada de madrugada. Pra nossa surpresa, o freezer era trancado à noite e o encarregado levava a chave pra casa. Não esquecemos. Simplesmente não pudemos levar. Pelo menos foi bem aproveitado”, escreveu o músico.  

E mandou um recado para Derico. “Mas, honestamente, se fosse eu quem houvesse encontrado, teria feito o favor de, já que ambos morávamos em São Paulo, ter levado para o amigo”, brinca Guarabyra.

Confira o programa. 

 

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