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Quarenta anos após vencer a 1ª Fampop, Genésio Tocantins aguarda convite para ser patrono do festival

Em entrevista exclusiva ao Fora de Pauta, cantor e compositor goiano fala sobre relação com a feira em mais uma reportagem especial sobre as quatro décadas da Fampop

Flávio Mantovani

Foto: Edel Coradi/Avaré Color

O cantor e compositor goiano Genésio Tocantins, que naquele 10 de julho de 1983 ainda assinava Genésio Sampaio, ouviu mais do que aplausos na final da 1ª Feira Avareense da Música Popular (Fampop).

“Peleja”, de sua autoria, levou o público ao delírio e lhe garantiu a vitória no nascente festival de Avaré. A conexão entre a canção experimental e a plateia não deixava dúvidas.

“Mandava uma mensagem clara: eu devia seguir compondo e cantando”, afirma o artista em entrevista exclusiva para mais uma matéria especial do Fora de Pauta sobre os 40 anos da feira.

Não que o competidor fosse um novato. Quando aportou em Avaré, Genésio já tinha uma série de conquistas no currículo. Depois de quatro vitórias consecutivas, foi proibido de concorrer no Festival de Arte de Inhumas (GO), o Gremi. Só podia subir ao palco como convidado.

Disputou competições país afora. Sua “Tempo de Colheita” lhe valeu menção honrosa no festival da TV Tupi realizado em 1979 na capital paulista. O vencedor daquela edição foi ninguém menos que Raimundo Fagner, seguido por Walter Franco e Oswaldo Montenegro.

O público talvez não soubesse, mas era um cachorro grande que pisava no palco daquela final histórica da Fampop. Apesar do alto nível dos concorrentes, o resultado não poderia ser outro. O impacto que “Peleja” causou na plateia pode ser conferido em vídeo disponível no YouTube. Veja abaixo.

Relação com festival

E a Fampop? Que impacto teve na carreira do compositor? “Revelando os Brasis em sua diversidade rítmica e poética, a Fampop foi marcante em minha trajetória artística, colocando em evidência a obra musical de um cantautor do antigo norte goiano”, analisa.

E vai além. “Conheci ali uma geração de compositores e cantores de primeira grandeza do cenário alternativo da Música Popular Brasileira”, conta o compositor, que não esquece o fato de ter recebido o prêmio das mãos do musicólogo Zuza Homem de Mello (foto).

Mas Genésio Tocantins voltou pra casa com mais coisa na sacola. “A feira propiciou o encontro, diálogos, vivências e troca de experiências. Estabeleceu amizades que já duram quatro décadas”, explica ao Fora de Pauta.

Uma passagem curiosa ilustra bem o tipo de relação nascida ali. Celso Viáfora, seu concorrente na final da Fampop, foi quem lhe emprestou o violão, já que o de Genésio não era elétrico (o goiano se virava com um captador grudado no tampo com massinha).  

“Um bom instrumento, com certeza potencializou a apresentação. Gratidão, parceiro”, afirma sobre o Ovation cedido pelo colega. 

Genésio Tocantins participou da Fampop no ano seguinte com a canção “Sede dos Afetos” e recebeu os prêmios de “Aclamação Popular” e “Melhor Intérprete”. O refrão é lembrado até hoje. “Eu vi o sol, vi a lua clarear, eu vi meu bem dentro do canaviá”.

“Muita gente, aliás, acha que essa música é que venceu a 1ª Fampop”, esclarece o produtor Juca Novaes, um dos fundadores da feira avareense. 

O chamado das raízes

Embora quisesse voltar, Genésio esteve ausente da Fampop no final dos anos 80 por um chamado das raízes. Tocantins o convocava, literalmente. 

Genésio Sampaio Filho nasceu em Piacá, cidade do antigo norte de Goiás que passou a se chamar Goiatins em 1967.

O artista de origem ribeirinha e sua família mergulharam de cabeça na luta pela criação do estado de Tocantins, reivindicação que remontava aos tempos do Império. A justificativa era a situação de abandono que a região vivia.

Tocantins, que virou sobrenome, entrou no mapa do Brasil em 1988, o mais novo ente da federação.

Genésio se mudou para a capital Palmas em 20 de maio de 1989 e cantou no lançamento da pedra fundamental quando tudo ainda era mato. Não havia nada entre a serra e o rio, apenas o desejo dos pioneiros de construir ali uma cidade. 

Morou debaixo de um pé de pequi e bebeu água da mesma fonte onde emas, onças e lobos-guará matavam a sede. 

“Vi uma cidade nascer do cerrado”, relata sobre a saga. “Uma experiência única ver o povo chegando, os prédios surgindo da terra”. É dessa época o disco “Rela-Bucho”, lançado pela RGE.

Hoje com aproximadamente 300 mil habitantes, Palmas ganhou o apelido de capital ecológica do Brasil.

Peleja

Por ironia do destino, Genésio Tocantins vive uma peleja, nome de sua canção que venceu a 1ª Fampop, no exato momento em que essa reportagem é escrita. O motivo: as castanheiras que ele plantou eu seu quintal há mais de 20 anos geraram incômodo em um vizinho.

“Infelizmente, pela incompreensão humana, eu vou ter que fazer a extração”, contou o artista em seu perfil no Instagram. 

“Lutei, resisti, fui processado, tive conta bloqueada, recebi julgamentos ruins e palavras desagradáveis. Mas hoje começa a despedida, não aguento mais passar sozinho por essa situação. Será que apenas eu valorizo a natureza?”, questiona o cantor, que promete registrar todo o desdobramento do caso em sua conta na rede social.

Falha a ser corrigida

Ao final da entrevista, o Fora de Pauta pergunta a Genésio Tocantins se há alguma crítica em relação à Fampop. Tem apenas uma reclamação. Objeção que, depois de verbalizada, parece fazer todo o sentido do mundo. 

“Nunca me convidaram para ser patrono”, crava o primeiro vencedor do festival. “Uma falha a ser corrigida. Ainda há tempo”.

Cantor e compositor Genésio Tocantins em foto recente de Anderson Vaz

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