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Paulo Pimentel, 90 anos

Avareense fez carreira política no Paraná, de onde se projetou nacionalmente como liderança e empresário da comunicação

Gesiel Júnior

Especial para o Fora de Pauta

Vida legendária tem o avareense Paulo Pimentel no cenário político do Paraná. Protagonista de momentos decisivos da crônica recente do estado vizinho, ele comemorou 90 anos nesta semana.

Oportuno é relembrar que no auge da repressão militar, Pimentel conduziu lucidamente o destino dos paranaenses em meio à hipertensão dos quartéis.

Era, até então, o mais jovem eleito para ocupar o cargo de governador na história republicana. Soube, por cinco anos, de 1966 a 1971, lançar muitas sementes de desenvolvimento e modernização sobre terras permeadas de araucárias.

A sua vida pública começou um pouco antes, em 1960, no Norte Paranaense. Ali ele foi chamado pelo governador Ney Braga (1917-2000) e, após relutar, aceitou assumir, aos 32 anos, sem nenhuma experiência política, a função de secretário de Estado da Agricultura.

A guinada na carreira do advogado de Avaré ocorreu no período em que o país atravessava sucessivas crises institucionais. Criativo, o secretário Pimentel acumulou experiência ao ouvir pecuaristas e lavradores. Assim conseguiu melhorar o plantel bovino, planejar a agroindústria e promover mostras pecuárias.

Animado, em 1965 concorreu ao governo do Paraná, venceu fortes concorrentes e se tornou revelação na política nacional pela afinidade com os trabalhadores rurais, simbolizada no chapéu de palha, o ícone da sua campanha.

Fecundidade administrativa

Do Palácio do Iguaçu, em Curitiba, Pimentel saía para o interior a fim de implementar o programa que desenvolveu o Paraná de forma integrada por meio de investimentos estruturais. Nesse ritmo, expandiu a oferta de energia elétrica, modernizou as telecomunicações, abriu novas rodovias e injetou verbas na área social para dar mais qualidade de vida aos paranaenses.

Na educação, definiu o estatuto do magistério e pôs em prática o lema “Nenhuma criança sem escola. Nenhuma escola sem professor”, o que representou avanços inéditos. Mas a ousadia de Pimentel foi criar, em 1969, três universidades no interior: Londrina, Maringá e Ponta Grossa, o que então parecia inviável.

Visado, o moço correu riscos na convivência com os militares por defender abertamente a realização de eleições diretas. Escapou da cassação do mandato por ser habilidoso. A propósito, conseguiu evitar o fechamento da Assembleia Legislativa de seu estado pelo marechal Costa e Silva, que antes o consultou a respeito. Sobrou-lhe, contudo, perseguição posterior, no governo Geisel, lesiva para seus negócios empresariais.

Quase meio século depois, o contributo do projeto desenvolvimentista de Paulo Pimentel, se avaliado hoje de maneira abrangente, pode ser visto como precursor. Afinal, propiciou ao Paraná significativas conquistas em diferentes segmentos, a partir de ideias germinadas na sua fecunda gestão. 

Mais sobre o “Caboclinho de Avaré”

Nascido na Vila Nenê, bela casa de esquina do centro histórico de Avaré, em 7 de agosto de 1928, Paulo Cruz Pimentel completou esta semana o 90º aniversário.

Sua ascendência era de gente da política do café com leite. Pelo tronco paterno, o avô Camilo Pimentel mantinha cafezais no Sul paulista, enquanto o coronel João Cruz, pai de sua mãe, abastado cafeicultor, chefiava a política local e teve filhos ocupantes de cargos de realce no governo estadual.

Ainda menino, Paulinho ficou traumatizado ao ver o pai, o dentista Públio Pimentel, antes prefeito nomeado, ficar preso por alguns meses por se declarar contra a ditadura Vargas. Tão amarga experiência fez a mãe Maria Izabel pedir aos filhos para ficarem fora desse meio, mas ela não seria atendida.

Alfabetizado no Grupo Escolar Maneco Dionísio, Paulo passou a meninice ao lado dos irmãos Hélio, Fernando e Norma. Depois, fez o clássico em Botucatu, estudou no Colégio Rio Branco, em São Paulo, antes de ingressar no curso de Direito do Largo São Francisco. De lá, saiu diplomado em 1952 para advogar em favor do Grupo Votorantim, onde havia começado como office-boy.

Ainda na capital paulista, o jovem Pimentel se casou com Yvonne Lunardelli, integrante de família de cafeicultores com terras em Porecatu, para onde ele se mudou a fim de dirigir a Usina Central do Paraná. Da união nasceram quatro filhas: Altair, Isabel, Yvone e Vera Lúcia.

Em 1961, já à frente da pasta da Agricultura, Paulo Pimentel começou a montar o seu grupo de empresas na área de comunicações, composto de jornais e emissoras de rádio e TV.  

Após a passagem dinâmica pelo governo paranaense, quis retomar a vida pública em 1978, quando obteve a maior votação para a Câmara Federal. Reelegeu-se deputado para a Assembleia Constituinte em 1986, na sua derradeira passagem pelo Congresso Nacional.

A partir daí, fora da esfera partidária, Paulo Pimentel tornou-se referência na grande mídia. Recentemente, vendeu suas estações de TV e os jornais ‘O Estado do Paraná’ e ‘A Tribuna’.

Vetusto, revê hoje a própria jornada e se dedica inteiramente à família e aos que estão herdando o seu patrimônio feito de intenso trabalho e de muita fé na causa do bem comum.

Um de seus netos já segue seus passos na vida pública: Eduardo Pimentel Slaviero é o atual vice-prefeito de Curitiba. Prova de que a política verte no sangue da família Pimentel de geração a geração.

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