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Emapa: como surgiu a célebre feira pecuária

Primeira edição da Exposição Municipal Agropecuária de Avaré aconteceu entre 14 e 19 de dezembro de 1965

*Gesiel Júnior

Lançada informalmente na noite de 29 de setembro de 1965, no decorrer de um evento rotariano, a ideia de organizar uma mostra de animais em Avaré se concretizou em dois meses.

Abraçada com empolgação por um grupo de pecuaristas, a proposta envolveu de imediato o prefeito Paulo Araújo Novaes (1902-1970). Acionado, ele reagiu dizendo que, se houvesse ajuda, concordaria em realizar essa modalidade de exposição.

Com efeito, em tempo recorde, apoiadas pelos rotarianos e pela Rádio Avaré, a Prefeitura, a Casa da Lavoura e a Associação Rural se uniram pela causa. Da Câmara de Vereadores veio o suporte financeiro para subsidiar o evento através da aprovação de crédito especial no valor de um milhão de cruzeiros.

Durante seis dias, pouco antes do Natal, entre 14 e 19 dezembro de 1965, a 1ª Exposição Municipal Agropecuária de Avaré (famosa pela sigla Emapa) realizou-se no campo da Associação Athletica Avareense, na antiga Chácara Santana.

Houve a inscrição de dezenas de criadores, os quais acomodaram seus animais em improvisados pavilhões para bovinos. Tomaram parte representantes das raças Charolês, Nelore, Guzerá, Hereford, Holandês e Santa Gertrudis.

Apesar do clima chuvoso registrado no período, o público compareceu e prestigiou o desfile de abertura com carros de boi e carruagens com gente em trajes típicos, além de demonstrações hípicas.

Uma festa popular

O êxito inicial da feira motivou a Prefeitura a reservar uma grande gleba nas proximidades do antigo campo da aviação, onde aos poucos foi montado o atual parque de exposições.

Em 1966, presidiu a comissão organizadora outro premiado pecuarista: Dante Tezza. Nos dois anos seguintes o próprio prefeito assumiu essa função, assim como o seu sucessor, Fernando Cruz Pimentel, em 1969. Mas entre 1970 e 1972, para consolidar o evento, a missão esteve confiada ao zootecnista gaúcho Antônio Carlos Pinheiro Machado.

Desde o princípio a Emapa mereceu a atenção da classe política e do empresariado. Algumas personalidades do mundo artístico estrelaram na feira, dentre os quais Wanderley Cardoso, Ângela Maria e Sérgio Reis. Era o tempo em que a mostra fechava o calendário oficial da Secretaria Estadual da Agricultura e dava espaço ao entretenimento popular, tendo num tobogã uma das suas imagens bem características.

Governadores como Abreu Sodré, Laudo Natel, Paulo Maluf e José Serra prestigiaram o evento em suas gestões. Em 1970, o ministro Cirne Lima, da Agricultura, representou o presidente Garrastazu Médici na feira.

Ao longo dos anos o recinto foi modernizado com instalações amplas e dotadas de infraestrutura para receber grande número de animais e de público. Entretanto, alegando dificuldades financeiras em sua gestão, o então prefeito Paulo Dias Novaes Filho, cancelou a realização da feira em 2014, ano de seu jubileu áureo, não a promovendo nos anos seguintes.

Em 2018, o prefeito Jô Silvestre decidiu reativar a Emapa, que novamente terá concorridos leilões de animais, grade de espetáculos artísticos com estrelas da música sertaneja, tudo programado para atrair investidores de peso para Avaré, o que a torna turisticamente divulgada em todo o país pelos canais da mídia especializada.

Elias Ward, o idealizador

Inventivo, o inesquecível radialista Elias de Almeida Ward foi o dono da ideia de promover uma feira pecuária para Avaré.

A sugestão ele a deu numa reunião do Rotary Club, onde representava a imprensa. Coube ao jornalista Antonio de Freitas Filho, em crônica publicada no “O Avaré”, edição de 7 de outubro de 1965, registrar essa passagem nestes termos:

“Em seu rápido improviso, Elias referiu-se sobre a Feira de Animais recentemente realizada em Itapetininga, quando diversos criadores avareenses exibiram exemplares de seu plantel, obtendo significativos prêmios. Sugeriu, então, o destacado radialista que, a exemplo de Itapetininga, a nossa cidade promovesse a instalação de semelhante certame. Falou de sua significação e importância para o incentivo da criação de gado leiteiro e de corte, além de destacar a projeção que a mostra poderia propiciar à nossa cidade”.

Mais tarde, o próprio Elias Ward, integrante da primeira comissão organizadora da Emapa, no setor de divulgação, descreveu com emoção as origens da feira:

“Buscamos pedaços de madeira, cortamos varas de eucaliptos, pegamos pedaços de lonas, cortamos sapé nos sítios, tudo para montar a exposição. Embora as atrações fossem poucas, trouxemos o que havia de melhor: bois, cavalos, carneiros e cabras de raça ou bichos mestiços. Lavamos tudo e levantamos as barracas. Todos davam as mãos e naquele quase criar doméstico, assim germinou a Emapa”.

Mano Nogueira, o primeiro organizador

Premiado em 1964, na Feira de Animais da Água Branca, em São Paulo, o saudoso pecuarista Agenor Nogueira Filho, o Mano, ficou célebre como proprietário do boi “Bidu”, da racha Charolês, com o qual recebeu vários prêmios em mostras pecuárias.

A propósito, na sua fazenda em Barra Grande, é que aconteceram as reuniões preparatórias da Emapa. Incentivado pelos colegas criadores, ele aceitou a indicação do prefeito Paulo Araújo Novaes para organizar o evento, uma vez que detinha experiência no ramo e era muito respeitado na categoria.

Mano arregaçou as mangas, buscou ajuda e conseguiu com muito empenho, em pouco mais de dois meses, organizar a 1ª Emapa.

Sob sua coordenação atuaram na comissão organizadora importantes personalidades do meio rural, dentre os quais Ueliton Ribeiro, Luiz Lopes Galvão, Zomar Alves, Guido José dos Reis, Antonio César Nogueira de Castro, Ovídio Bastílio Tardivo, Caetano Lucchesi Filho, Dante Tezza Filho, Rosário Calipo, Paulo Dias Novaes, Floriano Alves, João Tezza Neto, Francisco Carvalho de Macedo, Pedro Lopes de Medeiros e Bolivar Pimenta.

Reforçaram o time Seme Jubran, Elias Ward e Paulo Alcides Jorge, enquanto que as primeiras mulheres a trabalhar pelo sucesso do evento foram Elvira Tezza, Marília Pires, Sílvia Simões Veiga, Zulma Marins, Floriza Souto Fernandes, Aracy Salles, Odete Pacheco Nogueira, Norma Tezza e Neuza Belinatto.

*Pesquisador e escritor, é autor de mais de 30 livros sobre a história de Avaré e região, entre eles da obra ‘Avaré em memória viva’ vol. IV, da qual foram retiradas informações contidas neste texto.

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