Produção da 1ª Fampop queria Lô Borges, mas teve que se contentar com genérico
Fora de Pauta conta passagens curiosas sobre a primeira edição do festival avareense que comemora quatro décadas em 2023
Flávio Mantovani/Foto: Edel Coradi (Avaré Color)
A Comissão Organizadora queria o cantor e compositor Lô Borges como atração na 1ª Feira Avareense da Música Popular (Fampop).
O mineiro já era um monstro da MPB em julho de 1983. Sua presença teria o poder de chancelar o festival, além de atrair público.
Por falta de grana, contudo, a organização teve que se contentar com um genérico: Os Borges, grupo formado pelos irmãos de Lô.
A trupe subiu ao palco na segunda noite da feira. “É claro que não faltaram músicas do irmão famoso”, conta Juca Novaes, presidente da 1ª Fampop.
Essa é mais uma passagem curiosa sobre a primeira edição do festival avareense que completa 40 anos em 2023. O Fora de Pauta traz outras.
O nascimento da música-tema
Também formado por irmãos, Fruto Primeiro, grupo de Juca, foi escalado como atração na noite de estreia da Fampop.
Foi ali que o público ouviu pela primeira vez a música “Avaré”, executada como parte do show. O que ninguém imaginava é que a canção causaria tanto impacto. “Aaaaaaaavaré!”, cantava a plateia, entusiasmada.
O Fruto Primeiro precisou cantar a música de novo. E de novo. Nascia ali, de forma involuntária, a música-tema da Fampop.
A composição também fez sucesso na edição do ano seguinte. Juca Novaes acrescentou uma introdução posteriormente, quando a música já era reconhecida como tema de abertura da Fampop.
“Mas tudo começou naquela noite em 8 de julho de 1983”, relembra o compositor.
Um empecilho técnico
O nome mais conhecido da grade de shows da 1ª Fampop era o grupo Premeditando o Breque (foto).
Egresso do underground paulistano, o Premê começava a fazer sucesso nas rádios na esteira de “Quase Lindo”, seu segundo álbum.
“São Paulo, São Paulo”, paródia bem-humorada de “New York, New York”, era o carro-chefe do disco. A música tem um arranjo sofisticado, nos moldes da composição imortalizada por Frank Sinatra.
Como era impossível reproduzi-lo ao vivo sem orquestra, o grupo levava para os shows o playback em fita de rolo. O problema era que a produção da Fampop não tinha preparado um aparelho pra tocar aquilo, o que gerou tensão nos bastidores.
Até que algum iluminado se lembrou que o fotógrafo Edel Coradi tinha o tal equipamento. Tiveram que caçá-lo em meio àquele mar de gente que entupia o Centro Avareense.
Só que Edel, que morava a apenas quatro quadras do prédio, estava a pé. Com todo mundo da organização correndo atrás de outros pepinos, restaria a ele trazer o gravador de rolo – um trambolho – nas costas.
Se a montanha não vem até Maomé, o negócio é improvisar. Edel agarrou as fitas de rolo e marchou pra casa, abrindo caminho entre o público. O Premê já estava no palco.
“Passei o playback correndo na primeira fita cassete que encontrei e voltei bem a tempo de colocar a música no show”, conta ao Fora de Pauta.
Vamos engarrafar essa energia?
Questionado sobre as memórias daquela apresentação, Wandi Doratiotto, vocalista do Premeditando o Breque, disse ter ficado impressionado com o clima que imperou na edição de 1983.
Parecia a confirmação de que as coisas estavam mesmo mudando, o que levou o músico a fazer uma piada no camarim.
“Vamos engarrafar essa energia e levá-la até os centros de poder pra mostrar como a juventude não suporta mais essa maldita ditadura”, rememora ao Fora de Pauta.
Genésio e quem mais?
Genésio Sampaio, hoje Genésio Tocantins, foi o vencedor da 1ª Fampop (leia mais sobre clicando aqui).
Até aí todo mundo sabe. Mas e os outros vencedores daquela edição histórica? O Fora de Pauta compila abaixo o resultado completo:
1º lugar: “Peleja”. Composição e interpretação de Genésio Tocantins
2º lugar: “Lua Pequena” (Miltinho Edilberto). Interpretação de Duo Flor do Campo, formado por Miltinho Edilberto e Vânia Bontempo
3º lugar: A “Úrtima Moda” de César Brunetti
Melhor Intérprete: Ana Mazzotti
Melhor Arranjo: “Horizontes” (Ize Novaes)