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Acionado na Justiça após publicar charge, avareense ganha apoio de artistas e entidades

Ilustrador no Diário do Grande ABC, Luiz Carlos Fernandes terá que explicar à Justiça seu desenho sobre Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo

Da Redação

O ilustrador avareense Luiz Carlos Fernandes, 60, está duplamente surpreso. Pessoas que ele nem imaginava entraram em sua defesa após ele ser acionado na Justiça pelo tucano Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo.

O estopim foi a charge publicada no Diário do Grande ABC em julho, na qual Morando é retratado portando uma placa com a inscrição “Compro terrenos. Dinheiro na hora”.

Segundo a matéria que acompanhava a arte, a empresa do prefeito foi denunciada à Polícia Federal sob a suspeita de negociar imóveis abaixo do valor de mercado.

Considerada uma forma de intimidação, a atitude do tucano acabou repudiada. Ilustradores se mobilizaram na defesa de Fernandes, inclusive reproduzindo a charge do avareense que atua no veículo ininterruptamente desde 1989.

O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, a Associação Paulista de Portais e Jornais e a Associação dos Cartunistas do Brasil, entre outras entidades, também se manifestaram contra a posição do político, considerada desproporcional.

O apoio também veio da Itália. A cartunista Mariagrazia Quaranta, conhecida como Gio, classificou como “vergonhosa” a situação e prometeu fazer barulho junto a outros ilustradores.

A outra surpresa vem do fato em si. “Terei que me explicar ao juiz. Tenho 40 anos de profissão e nunca havia visto uma coisa assim”, afirma ao Fora de Pauta.

Artista gráfico premiado em vários eventos nacionais e internacionais, Fernandes lembra que Morando achou a charge “jocosa”.

“A charge, por natureza, é jocosa. E homens públicos deveriam estar familiarizados com a crítica. Acho que é uma forma de intimidar mesmo”, ressalta o ilustrador.

“Tempos estranhos”

Recentemente, Renato Aroeira, autor da charge em que o presidente Jair Bolsonaro aparece transformando a cruz vermelha de um hospital em suástica nazista, entrou na mira do ministro da Justiça. O artista pode ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional.

André Mendonça pediu à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República a abertura de um inquérito para investigar o desenho.

Assim como ocorreu com Fernandes, diversos chargistas reproduziram o trabalho em solidariedade ao colega.

Questionado pela reportagem se vê relação entre os dois casos, Fernandes é categórico.

“A coisa está muito estranha. Acho que tem a ver com esse momento em que a gente está vivendo, essa ditadura velada”, conclui.

 

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