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Avaré fica sem os versos da radialista Marília Pires

Primeira locutora da Rádio Avaré, ela brilhou como intérprete na locução de radionovelas e será lembrada pela maneira solene, alegre e poética com que usava os microfones da emissora, ao lado do marido Elias Ward (1925-2013), outra legenda do radiojornalismo da região

Gesiel Junior*

Ela foi uma das pioneiras da radiodifusão no sudoeste paulista. Primeira locutora da Rádio Avaré, Marília Pires brilhou como intérprete na locução de radionovelas e será lembrada pela maneira solene, alegre e poética com que usava os microfones da emissora, ao lado do marido, Elias Ward (1925-2013), outra legenda do radiojornalismo da região.

No fim da tarde da quinta-feira, 22 de abril, a radialista e poeta Marília Pires de Almeida Ward faleceu aos 90 anos de idade, na Santa Casa de Avaré, em consequência de uma pneumonia.

“Marília se mistura à própria história da cidade. Autodidata, desde cedo aprendeu a cultivar o gosto pela beleza e pela riqueza da natureza, sem esquecer-se de nela colocar o ser humano”, escreveu o advogado e cronista José Carlos Machado Silva, na apresentação de “Boninas”, único livro da poeta, publicado em 1995.

Nascida em Cerqueira César em 2 de julho de 1930, onde sua família residia na época, Marília era também de ascendência italiana pelo tronco materno, embora seus ancestrais tenham se radicado em Avaré, ainda Vila do Rio Novo, nos anos 1870.

Filha do farmacêutico José Pires Corrêa, o Ginho, e da pianista Bonina Amaral Simonetti, Marília era a Irmã caçula do escritor J. Herculano Pires, um dos mais lidos autores espíritas do país. Aliás, ela teve vários parentes ligados à cultura, como os seus primos escritores Jango Pires e José Pires Carvalho, sua tia Izabel Pires e sua sobrinha Heloísa Pires. Era também amiga pessoal de artistas importantes, como o poeta Cláudio Cortez e a pintora Estela Gambini.

De pequena estatura – chamada carinhosamente de “Pequetita” pelos familiares – sempre bem-humorada, ela dirigiu a Rádio Avaré entre os anos 1950 e 1980, quando apresentava com sua voz consonante “A Crônica de Marília”, programa de grande audiência.

Também tomou parte de eventos típicos como a Corrida de São Silvestre, organizada pelo marido Elias, e integrou a primeira comissão organizadora da Exposição Municipal Agropecuária (Emapa).

Dinâmica, fumante inveterada, apoiava iniciativas culturais e beneficentes e recentemente a biblioteca da Colônia Espírita Fraternidade recebeu o seu nome, como forma de homenageá-la.

Viúva de Elias Ward, com quem foi casada por mais de 60 anos, Marília havia perdido o filho Marco Antônio, secretário de Infraestrutura de Paulínia, em outubro passado. Deixa as filhas Marília e Marina, netos e bisnetos, sobrinhos e cunhadas.

De Heloísa Pires, filha de Herculano e sobrinha da poeta, fica a definição sobre aquela que viveu, sofreu e cresceu: “Tanta beleza, capacidade de análise, amor à humanidade. Marília Pires deixa o seu quinhão, que vem deliciosamente envolto em poesias preciosas”.

*Escritor e pesquisador, Gesiel Junior é autor de mais de 30 livros sobre a história de Avaré e região.

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