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Zuza Homem de Mello ajudou a moldar caráter plural que define a Fampop

Presidente do júri em várias edições, musicólogo que morreu no domingo, 4 de outubro, cunhou a expressão “Avaré viu e ouviu primeiro”

Da Redação

O cantor e compositor Chico César estava na luta em 1991. Buscando viabilizar sua carreira, ele havia tentado ingressar em alguns festivais país afora, mas sem sucesso. Sua arte era singular demais para ouvidos menos atentos.

Até que ele resolveu inscrever uma composição na Feira Avareense da Música Popular (Fampop). O paraibano não apenas entrou, mas ficou em terceiro lugar com a música “Béradêro”. Também levou a categoria de “Melhor Letra” numa edição que tinha como concorrentes letristas do porte de Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro e Capinam.

A passagem ilustra bem o caráter plural que sempre foi a tônica da Fampop. O que muita gente não sabe é que o musicólogo Zuza Homem de Mello foi determinante para que o evento avareense tivesse esse perfil.

Presidente do júri da primeira edição, em 1983, e de vários outros anos nas décadas seguintes, o escritor e pesquisador morreu no domingo, 4, aos 87 anos, em São Paulo.

“Zuza sempre foi ligado em coisas diferentes. Ele dizia que era importante olhar para os artistas estranhos, permitir que eles participassem”, revela ao Fora de Pauta o músico Juca Novaes, um dos fundadores da Fampop.

Outras contribuições

A contribuição de Zuza para a Fampop não para por aí. A presença de um dos mais importantes pesquisadores da MPB ajudou a atrair holofotes para a feira de Avaré, além de trazer credibilidade à proposta.

O escritor também cunhou a frase “Avaré viu e ouviu primeiro”, que definiria o festival avareense, referência a artistas que passaram por seu palco antes do estrelato. Zeca Baleiro, Lenine, Dani Black e o próprio Chico César são alguns exemplos.

Novaes aponta ainda que Mello indicou jurados, entre eles jornalistas, que ajudaram a divulgar a Fampop em outros estados, contribuindo para que a feira fosse considerada o “melhor festival do interior” e um dos mais respeitados do país.

“Ele também escreveu um texto primoroso sobre sua importância. Acho que é o maior tesouro, em termos de referência, que o festival pode ter em toda sua história. Porque ele faz uma distinção da Fampop em relação a outros eventos. Zuza afirma que a Fampop foi o mais bem-sucedido festival regional do Brasil”, ressalta Juca.

Trajetória

Nascido José Eduardo Homem de Mello, Zuza é referência nacional quando o assunto é Música Popular Brasileira.

Estudou em conservatórios nos Estados Unidos na década de 50 e trabalhou com grandes nomes da música após o retorno ao Brasil.

Dirigiu diversos festivais e trabalhou em programas como “O Fino da Bossa”, com Elis Regina e Jair Rodrigues. Atuou como técnico de som no emblemático festival da Record de 1967 que testemunhou o surgimento da Tropicália, movimento artístico capitaneado por Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Comandou programas de rádio e televisão sobre música, além de escrever artigos, ensaios e reportagens para a imprensa. 

É autor dos livros “A Era dos Festivais: Uma Parábola” e “Copacabana: a trajetória do samba-canção (1929-1958)”, entre outros. Finalizou recentemente uma biografia do cantor João Gilberto, que deve ser lançada em breve.

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