Especial

Documentário imortaliza memória de combatentes avareenses

O ex-combatente Rufino Gomes observa a placa do Monumento ao Pracinha, no Largo São João, que leva o nome dos avareenses que integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Suas mãos estão cruzadas para trás e a cabeça inclinada a 45 graus, uma vez que a estrutura metálica fica um pouco acima do ângulo de visão humano. “Tudo colega meu. Tem nome do Sérgio Bernardino aqui”, diz, visivelmente emocionado.

O pracinha então começa a ler a inscrição que diz “honra a eles”, mas só consegue pronunciar a palavra “honra”. Incapaz de continuar, Rufino abaixa a cabeça, caminha alguns passos em direção ao centro da praça e para num determinado ponto, como se rememorasse ali, na segurança de sua terra natal, os horrores vivenciados no conflito. “A guerra é um negócio triste”, sentencia.

A passagem está no documentário “Avareenses: Heróis de Guerra”, produção de 2009 dirigida pelo empresário Cláudio Albuquerque, que reúne ainda relatos de Pedro Mariano da Silva, além de Nicola Cortez Neto e Edmundo Trench que foram adicionados numa segunda versão.

Rufino Gomes tem motivos de sobra para lamentar o episódio. Ele foi uma das últimas pessoas a falar com Sérgio Bernardino, único dos 33 avareenses integrantes da FEB a morrer em combate. Ambos serviram no mesmo acampamento em Monte Castelo, na Itália.

Assim que foi escalado para a linha de frente, Bernardino correu contar a notícia ao colega. “Quero rasgar barrigada de alemão na faca”, disse ao amigo. Rufino, por sua vez, procurou alertar o companheiro. “Você tome cuidado que o mesmo que você está pensando, eles também estão”. Dito e feito. Sérgio Bernardino foi ferido e morto em 14 de abril de 1945, a menos de um mês da rendição dos alemães.

Chega um momento em que o contato com a morte e o risco iminente à integridade física se tornam tão comuns que se perde o medo, revelou Nicola Cortez Neto.

Servindo em Porreta-Terme, o avareense costumava frequentar uma cantina americana que comercializava chocolate e cigarro. O local tinha ainda uma casa onde os soldados tomavam banho quando o combate dava uma trégua.

Os alemães, no entanto, estavam atentos a tudo. Quando avistavam uma aglomeração na praça que centralizava a vida social da localidade, os nazistas derramavam pesados bombardeios. “A gente corria para se esconder e se abrigar naqueles prédios já semi-destruídos. Muitos morriam nesses ataques. Eu me lembro de dois americanos num Jeep. O que conduzia levou um estilhaço no pescoço e caiu morto sobre o volante, com a cabeça quase decepada do corpo”, reconstitui no filme.

Edmundo Trench foi para a linha de frente em 6 de fevereiro de 1945 em Monte Castelo, período no qual a região era açoitada pelo frio e pela constante artilharia das tropas alemãs. “Eu guardo bem porque era o meu aniversário”, diz o pracinha que completava 26 anos na ocasião.

Nem por isso a missão se tornaria mais agradável. Trench atuava na Companhia de Petrechos Pesados, encarregada do uso de metralhadoras pesadas, de calibre 50, e morteiros de 81 milímetros. A função significava atacar posições defensivas do inimigo, crucial para o avanço aliado, operação que o pracinha chamaria mais tarde de “batismo de fogo”.

A rendição alemã, todavia, não colocou fim ao drama do brasileiro, uma vez que a guerra no Pacífico ainda não havia sido liquidada. Trench e muitos companheiros ficaram aguardando ordens sem saber se voltariam ao país ou se seriam enviados para lutar no Japão. Ironicamente, as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki e a consequente capitulação dos japoneses favoreceram o avareense, assegurando o retorno à terra natal.

Fonte: Jornal A Comarca

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