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Simplicidade, bom humor e revelação sobre quem é o melhor: jornalista avareense conta como foi trabalhar com papa Francisco

Marcello Zanluchi atuou em projetos de comunicação do Vaticano e também assessorou João Paulo II e Bento XVI

Flávio Mantovani

O papa Francisco (1936-2025) tinha uma maneira diferenciada e estratégica de se comunicar.

Diferenciada porque a comunicação do santo padre se dava através do corpo, no toque, no olhar, na escuta. E estratégica devido ao seu estilo franco durante as entrevistas, já que o jesuíta sempre foi muito claro em suas respostas e não fugia de temas considerados polêmicos.

Quem analisa é o avareense Marcello Zanluchi, 43. Formado em Jornalismo e com mestrado e doutorado em Comunicação, Zanluchi tem credencial para opinar: além de comunicador profissional, ele trabalhou no Vaticano e esteve presencialmente com Francisco em pelo menos oito ocasiões, isso sem contar os eventos públicos com a presença do pontífice nos quais atuou.

A relação profissional com a Santa Sé começou em 2004, quando o avareense ingressou como estagiário na Rádio Vaticano ainda durante o pontificado de João Paulo II.

De lá pra cá, Zanluchi trabalhou em diversos projetos do Vaticano voltados à área da comunicação. O jornalista atuou como assessor de imprensa, por exemplo, durante as visitas apostólicas que Bento XVI – com quem também trocou palavras – e o próprio Francisco realizaram no Brasil.

O avareense Marcello Zanluchi com o papa João Paulo II durante audiência no Vaticano 

Simplicidade: atributo de Sua Santidade

A proximidade permitiu que o avareense comprovasse in loco uma das marcas do papa argentino: a simplicidade.

Durante a Jornada Mundial da Juventude realizada em 2013 no Brasil, Francisco abriu mão dos carros blindados oferecidos pelo governo brasileiro e preferiu circular pelas ruas em um veículo comum.  

Os improvisos do argentino não pararam por aí, para o desespero de sua equipe. “O papa nos fez mudar toda a logística para que, nas dificuldades do Rio de Janeiro, ele se encontrasse com os jovens argentinos na catedral”, revela Marcello Zanluchi ao Fora de Pauta.

Francisco aparece de surpresa em casamento

O avareense também esteve com o papa Francisco numa situação inusitada em 2018, fora do ambiente de trabalho.

Marcello era um dos convidados do casamento de uma brasileira com um membro da Guarda Suíça, responsável pela segurança dos papas há mais de cinco séculos.

A cerimônia na Capela Santo Estevão, localizada atrás da Basílica de São Pedro, transcorreria dentro da normalidade. Mas olha quem resolveu dar o ar da graça: o papa Francisco em pessoa!

Foi um misto de surpresa, alegria e tensão. O capelão da Guarda Suíça alertou que os primos do noivo, que seriam os coroinhas da celebração, nunca tinham auxiliado um papa. O risco de erros, portanto, era grande.

Mas o pontífice tratou logo de acalmar os ânimos. E com muito bom humor, outro de seus atributos. “Eles são humanos, e não relógios suíços”, respondeu Francisco ao capelão, em tom de brincadeira.

O jornalista também assessorou Bento XVI em sua atividade na área de comunicação do Vaticano

Papa fez revelação no último encontro

A última audiência de Marcello Zanluchi com o pontífice foi em 2023 durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, na qual o avareense trabalhou na Sala de Imprensa da Santa Sé.

Apesar de toda a formalidade que lhe é peculiar, Zanluchi não conseguiu evitar uma pergunta capciosa.

“Pelé ou Maradona?”, perguntou a Francisco. E o santo padre argentino, do alto de sua autoridade, respondeu aquilo que o mundo todo já desconfiava. “Pelé. E ele era meu amigo”, cravou o jesuíta.

Legado

Mesmo estando a par da saúde do papa Francisco, Marcello Zanluchi confessa que a morte do pontífice o pegou de surpresa. Principalmente após a benção Urbi et Orbe que o líder católico ministrou em sua última aparição pública, um dia antes de morrer.

“Embora muito fragilizado, ele tinha uma cabeça muito lúcida e um desejo enorme de encontro com o seu povo”, diz o avareense, em referência ao fato de o papa ter ainda circulado de carro pela Praça de São Pedro.

Para Zanluchi, Francisco deixa como ensinamentos a importância do verdadeiro encontro entre as pessoas, o diálogo aberto entre os povos e a preocupação com o crescimento social do mundo.

Uma Igreja aberta a todos, em resumo. “Seu legado é a misericórdia”, finaliza o jornalista.

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