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Batalha da Concha dá visibilidade ao underground

Apesar do frio, cerca de 60 pessoas se reuniram na noite de domingo, 5 de novembro, para acompanhar o duelo de MCs promovido na praça central da cidade

DA REDAÇÃO

O cenário não parece nada favorável. A chuva deu uma trégua, mas a névoa insistente castiga quem se atreveu a sair de casa na noite de domingo, 5 de novembro.

Como se não bastasse o vento gelado, os organizadores da Batalha da Concha não tiram os olhos do relógio. A atração precisou ser atrasada em algumas horas para não prejudicar quem participava do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Havia, portanto, alguma desconfiança no ar, já que muitos dos frequentadores estavam na prova.

No entanto, mesmo diante das adversidades, cerca de 60 pessoas estiveram na Concha Acústica, no centro de Avaré, para acompanhar a competição na qual mestres de cerimônia (MCs) fazem um duelo de rimas.

As primeiras edições foram realizadas em 2015 na pista de skate localizada na Avenida Misael Euphrásio Leal. Depois de chegar ao ápice, os encontros semanais começaram a perder público.

A ideia de trazer o evento mais para o centro cumpre um papel político: dar visibilidade ao movimento. “É um ponto de encontro entre o pessoal do grafite, do rap, do skate, da dança de rua. O interior tem voz. As pessoas só precisam dar mais atenção aos grupos locais”, explica o DJ Wellington Jamal, 23, um dos organizadores.

Tudo é feito na base do mutirão – um traz a mesa de som, outro descola uma caixa – e sem apoio do poder público.

O duelo

O evento agora é realizado quinzenalmente. Após o encerramento da inscrição, um sorteio define os concorrentes. São dois rounds de 30 segundos. O público define o vencedor. Quando há empate, tem início uma terceira rodada. Em caso de dúvida, um jurado dá o voto de minerva, levando em consideração aspectos como dicção e criatividade. 

Há duas modalidades de combate. Na batalha de conhecimento, o MC tem que improvisar sobre o tema proposto. Pode ser guerra na Síria ou trabalho escravo, por exemplo. Já na batalha de sangue, caso da edição que o Fora de Pauta acompanhou, os concorrentes se provocam mutuamente.

Mas há vedações. Frases racistas ou homofóbicas, por exemplo, são proibidas. Numa das disputas, um participante havia feito referência ao peso do adversário. O jurado pegou o microfone. “Vamos evitar esse tipo de conduta”, lembrou. 

Social

MC Rasmi, 21, que integra a organização, ressalta que o evento tem uma importância social. “Além de trazer uma visão crítica, é diversão gratuita e acessível. A batalha reúne quem mora nos bairros, mas tem gente de toda casta social”.  

O estudante Matheus Moraes, 18, concorda com o aspecto agregador. Ele acompanha o evento desde os tempos da pista. “Vejo como um movimento social. É um encontro da galera do rap e de outros segmentos do underground. Os moradores de rua também participam. O pessoal acolhe”, conta.

Ana Júlia, 19, namorada de Matheus, está em sua terceira batalha. Ela, que até então só acompanhava o cenário à distância, considera que a presença é importante para fortalecer a causa. Ambos frequentam um tradicional colégio particular de Avaré e estavam entre os que haviam prestado o Enem.

Mas o movimento não se limita ao que se vê na Concha Acústica. Há aproximadamente 25 MCs e pelo menos 6 grupos de rap que atuam no urderground de Avaré, entre eles Verbo Agressivo e Projeto Sohm.  

O interior tem voz. E, ao que parece, começa a ser ouvido.

                               Participantes em uma das edições anteriores da Batalha da Concha

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