Crônica

Viva Trump!

O fenômeno Donald Trump tem aterrorizado não só os EUA, mas também o mundo. Se uma democracia razoavelmente consolidada foi capaz de permitir o surgimento de tamanha anomalia, é de se pensar o que poderia surgir num país periférico como o nosso, onde as instituições democráticas balançam e pensar fora do eixo dominante representa um risco físico.

Fazendo parte de uma mesma categoria, demagogos, tiranos e defensores da violência são os principais beneficiários em tempos de crise e descrença nas instituições, perdendo apenas para o capital financeiro. Enquanto o trabalhador amarga a recessão, eles despontam do nada e prometem tirar da cartola a fórmula mágica que vai acabar com os problemas da sociedade num passe de mágica. Os exemplos estão aí: Trump, Bolsonaro e tantos outros que vão aproveitar as eleições municipais para botar as manguinhas de fora.

O demagogo usa a seu favor o mais acessível e gratuito dos elementos unificadores: o ódio. Por ignorância ou interesse, ele desconsidera as leis, regras e instâncias de poder ao propor soluções fáceis aos que lhe prestam fidelidade canina. Há criminosos? Vamos partir para o extermínio físico. Pouco importa a eficácia, já que não se combate aquilo que cria a marginalidade. O importante é o efeito cênico. Há problemas na educação? Prendamos os professores, esses marxistas comedores de criançinhas. O trânsito piorou após o fim das férias? Simples: vamos fechar as escolas e impedir que os pobres se metam a comprar carros e a circular pelo centro. (Bom era o tempo em que eles se preocupavam em gastar suas moedinhas com cachaça. Quanta audácia!). Do outro lado, a plateia aplaude, histérica.

A ignorância, o medo e a desinformação são o motor dos candidatos a tirano. Espertamente, eles trocam a razão pela emoção: o debate sobre o interesse público é substituído pelos ataques pessoais, xingamentos e rinhas na internet. A política é atropelada pela irracionalidade.

No entanto, assim como o ladrão que pratica uma ação fundamentalista ao roubar um carro, o candidato a tirano (ou seria tirano candidato?) rouba a esperança do cidadão de bem, que só perceberá o engano quando a força bruta até então defendida por ele se voltar contra sua própria família. Ou, no melhor dos casos, quando notar que seu “ídolo” passou de rottweiler a chihuahua assim que se sentou na cadeira.

Ao contrário dos que as pessoas pensam, o tirano professa a barbárie, não a solução. Desmontar a farsa a tempo é a chave que pode levar à construção de uma sociedade mais justa, plural e civilizada, embora esse seja o caminho mais difícil.

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