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Quem é a avareense que integrou a equipe do filme “João, o Maestro”

Em entrevista exclusiva ao Fora de Pauta, a continuísta Ana Lígia Coradi fala sobre sua trajetória e o trabalho no longa-metragem baseado na vida do pianista João Carlos Martins

FLÁVIO MANTOVANI

Desde sempre, Ana Lígia Coradi, 31, queria se jogar. E não era em qualquer braço. Embora tivesse se formado em Rádio e TV, ela queria mesmo é ir pro colo do cinema.

Coradi atuou como continuísta no filme “João, o Maestro”, longa-metragem baseado na vida do pianista João Carlos Martins que estreou na quinta-feira, 17.

A trajetória de Ana, contudo, começa em 2010 como assistente de produção na série “Bipolar”, ao lado da também avareense Lu Lopes.

Ela chegou a trabalhar como produtora de elenco, mas sentia que faltava algo. Foi quando apareceu uma chance. “Estavam precisando de um continuísta sem experiência num trabalho com pouca grana e fui indicada”, conta ao Fora de Pauta. A partir dali, uma luz acendeu. “Onde me encontrei e me realizei foi na continuidade”, revela a avareense, que hoje vive no Rio de Janeiro.

Seu trabalho inicia na pré-produção, quando a profissional começa a destrinchar o roteiro a fim de compreender a cronologia da história que será contada.

O passo seguinte é pensar em trocas de roupa, cabelo, figurinos de acordo com a época. A etapa exige ainda a interlocução direta com direção e departamentos como maquiagem e arte.

Como as cenas são filmadas de acordo com cenário, locação e disponibilidade de elenco e não pela sequência em que aparecem na tela, tudo tem que estar encaminhado nos mínimos detalhes. 

“Minha função, antes de começar a gravar, é estudar tudo o que vai ser filmado naquele dia. Eu tenho que saber de onde cada cena veio e pra onde vai. Eu dialogo com o figurino, maquiagem e arte sobre quais roupas os personagens vão usar, se o personagem tem que estar molhado, sujo ou descabelado, por exemplo. Tudo isso é estudado”, explica.

Mas o trabalho continua depois que o diretor diz “gravando”. “Eu também sou responsável por acompanhar o roteiro, notar se alguém dá fala errada, e ao mesmo tempo prestar atenção nos movimentos, porque quando você muda o plano, você tem que saber qual mão que o ator apoiou o braço na mesa, por exemplo. Quando for montar, não pode ter erro, diferença de cabelo”, continua.

“Na raça”

Coradi diz que o início, no entanto, não foi fácil. “Eu nunca fiz curso de continuísta. Hoje em dia tem, mas quando me formei não havia e aprendi na raça mesmo. Fiz duas séries e um curta tudo do meu jeito”, revela.  

O domínio da função se consolidaria com o ingresso no SBT, onde fez a novela “Carrossel” e foi continuísta de “Chiquititas” durante seis meses. “A minha escola de continuidade foi trabalhar no SBT. Melhorei a forma como estruturar meu pensamento, ter um raciocínio mais objetivo e rápido”, conta. Da emissora, Coradi saltou para a série “Que Talento!”, que foi ao ar no canal Disney Channel.

Além de séries e novelas, foram aparecendo trabalhos em longas, dentre os quais “Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood”, “Bem Casados”, “Vidas Partidas” e “Juízo Final”, entre outros. O currículo não deixa dúvidas: são nove filmes, oito séries, duas novelas e dois curtas.

Proseando com o maestro

Seu passaporte para “João, o Maestro” foi carimbado ainda durante as filmagens de “Saltimbancos Trapalhões”. Grande parte da equipe que fez o filme com Renato Aragão foi parar no set da cinebiografia dirigida por Mauro Lima.

Um desejo pessoal, no entanto, também conspiraria para que Ana Lígia fosse empurrada para a produção. “Eu queria muito fazer o filme pela história do protagonista, que eu já conhecia. Fiquei muito feliz quando fui chamada. Eu até brincava com João. Eu dizia que depois dele, eu era a pessoa mais feliz no set, porque realmente estava fazendo o filme por prazer”, diz a avareense, que só não ficou responsável pela continuidade de cenas gravadas fora do país.

Reconhecido internacionalmente como pianista desde a década de 60, o paulistano teve que abandonar o instrumento em 2002 em razão de problemas físicos.

Uma sucessão de incidentes durante a carreira – incluindo quedas, um tumor e até uma pancada na cabeça durante um assalto na Bulgária – havia criado dificuldades motoras em ambas as mãos, cenário pra lá de terrível para quem vive da habilidade dos dedos.

Em 2004, Martins iniciou os estudos de regência, alternando a função de maestro com a de pianista em ocasiões especiais ou quando a fisioterapia trazia melhoras significativas.

João Carlos Martins era presença constante no set. Perfeccionista, ele orientava o ator Alexandre Nero nas cenas ao piano e como regente. O objetivo era garantir que os movimentos de mãos do protagonista soassem o mais real possível.

“Nós sempre proseávamos”, continua a avareense. “Ele pedia para ajudá-lo a mexer no celular quando queria encontrar um email. Ou ficava quietinho ensaiando regência e pedia para eu avisá-lo quando chegasse cena que teria ator tocando piano”, rememora.

Além de Nero, os atores Davi Campolongo, João Pedro Germano e Rodrigo Pandolfo interpretaram o artista nas diferentes fases da trama.

                        Bastidores: no registro feito por Ana Lígia, maestro orienta o ator Alexandre Nero 

Novo projeto

Ana Lígia Coradi já está envolvida com um novo projeto, o filme “Carlinhos e Carlão”, comédia do diretor Pedro Amorim que vai ser rodada no Rio de Janeiro.

A avareense, que no início do ano já havia feito “Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral”, termina a entrevista com um recado sobre Halder Gomes, diretor da película.  

“Anota que você vai ouvir falar muito desse diretor. Ele é maravilhoso”, conclui.

 

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