Nilva Calixto vai apresentar projeto de restauro do Santuário de Avaré
Em 400 anos, artista foi a primeira mulher a entrar no claustro dos monges para recuperar pinturas no Mosteiro de São Bento, situado na capital paulista
GESIEL JÚNIOR
ESPECIAL PARA O FORA DE PAUTA
Na noite de quinta-feira, 19 de outubro, no plenário da Câmara de Vereadores, a partir das 19 horas, a artista plástica e restauradora Nilva Calixto apresentará, em audiência pública, o projeto para recuperar o Santuário Nossa Senhora das Dores, principal bem cultural de Avaré.
Nesse encontro, que tem o apoio da Secretaria Municipal da Cultura e do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Condephac), a expectativa é a captação do apoio de empresas para as obras de restauro do templo, já que o projeto de Calixto tem aprovação do Ministério da Cultura por meio de incentivos fiscais da Lei Rouanet.
“Nossa expectativa é que, conhecendo a iniciativa e plano de trabalho da artista, o empresariado decida em investir na restauração da igreja símbolo de nossa cidade”, destacou o secretário de Cultura, Diego Beraldo, que está empenhado na ajuda para concretização do projeto.
Experiência única
Com mais de 40 anos de experiência em restauração, a artista avareense é sinônimo de paciência, tenacidade e técnica. “O patrimônio da arte brasileira deve a ela o resgate de valiosas peças sacras, antes deterioradas pelo tempo ou danificadas por amadores sem critério científico”, comenta o poeta e cronista Cláudio Cortez.
Dama de formação eclética, Nilva é uma profissional reconhecida por seu empenho em serviços de assessoria, prospecção de projetos e execução de restauro de bens e patrimônio culturais.
Aliás, por ter coordenado com eficiência o restauro do Teatro Municipal de São Paulo, o trabalho lhe abriu as portas do Mosteiro de São Bento. Curiosamente ela então se tornou a primeira mulher a entrar no claustro dos beneditinos, desde a fundação do mosteiro em 1598, para recuperar, ali, a capela abacial.
Nesse templo restrito do abade, há uma magistral amostra paulistana do estilo ensinado pela tradicional escola alemã de Arte Beuron, cuja técnica influenciou as mais recentes produções de Calixto. Nesse lugar, ela recuperou afrescos pintados em 1921 pelo monge holandês Adelbert Grenicht.
Suas mais recentes obras são pinturas internas sobre temas religiosos e litúrgicos para a Basílica de Nossa Senhora do Belém, em Itatiba, para a Matriz de Águas de Santa Bárbara, além de painéis feitos para decorar os aposentos usados por Bento XVI, no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, durante a visita do papa emérito ao Brasil, em 2007.
Mais sobre a brilhante artista
Nascida em Avaré, filha de pais de origem árabe e italiana, Nilva Calixto fez curso de recuperação de obras artísticas em Florença e Nova York e estagiou no Museu de Arte de São Paulo, entre os anos de 1972 e 1974, quando foi responsável pelo resgate de pinturas de mestres como Renoir, Van Gogh, Volpi e Portinari.
Em sua terra natal, a especialista lecionou por dez anos nas cadeiras de plástica, história da arte, evolução das técnicas de representação gráfica e desenho artístico na Faculdade de Ciências e Letras da Fundação Educacional Regional de Avaré (Frea).
Marcante em sua travessia pela via acadêmica foi a organização, em meados dos anos 1970, de congressos universitários de história em quadrinhos, eventos de nível internacional que atraíram para Avaré, cartunistas dos Estados Unidos, Itália e Argentina.
Célebre pelos trabalhos de pesquisa e restauração, Nilva Calixto também é uma premiada pintora. Em 2000, por encomenda da prefeitura, criou o painel “Djanira, via angélica” que ornamenta o memorial da pintora em Avaré.
Em 2013, as habilidosas mãos da artista cuidaram do restauro da estatueta centenária de Nossa Senhora venerada na Capela da Boa Morte, do Bairro Alto, doação da Família Imperial ao povo avareense.