Especial

Documentário narra últimos momentos de avareense que morreu na 2ª Guerra

Trinta e três jovens de Avaré fizeram parte da Força Expedicionária Brasileira (FEB); Sérgio Bernardino foi o único a não voltar pra casa 

Flávio Mantovani

O ex-combatente Rufino Gomes observa a placa do Monumento ao Pracinha, no Largo São João, que exibe o nome dos avareenses que integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB). 

“Tudo colega meu. Tem o nome do Sérgio Bernardino aqui”, diz, visivelmente emocionado. “A guerra é um negócio triste”, continua. 

A passagem está no documentário Avareenses: Heróis de Guerra, produção de 2009 dirigida por Cláudio Albuquerque que reúne ainda relatos de Pedro Mariano da Silva, Nicola Cortez Neto e Edmundo Trench. Todos os entrevistados já morreram.

Rufino Gomes tinha motivos de sobra para lamentar o episódio. Ele foi uma das últimas pessoas a falar com Sérgio Bernardino, único dos 33 avareenses integrantes da FEB a morrer em combate. Ele tinha 22 anos quando tombou. 

Ambos serviram no mesmo acampamento em Monte Castelo, na Itália. A batalha é considerada uma das mais sangrentas da 2ª Guerra.

Assim que foi escalado para a linha de frente, Bernardino correu contar a notícia ao colega. “Quero rasgar barrigada de alemão na faca”, disse a Gomes.

Rufino ponderou. “Tome cuidado. O mesmo que você está pensando, eles também estão”.     

Dito e feito. Sérgio Bernardino foi ferido e morto em 14 de abril de 1945, a menos de um mês da rendição dos alemães.

Uma lápide (foto) em território europeu preserva a memória do brasileiro. O registro foi feito pelo diretor do documentário.

Estilhaço no pescoço

Chega um momento que o contato com a morte e o risco iminente à integridade física se tornam tão rotineiros que o sujeito perde o medo. A revelação é de Nicola Cortez Neto.

O avareense que serviu em Porreta-Terme costumava frequentar uma cantina americana. O local tinha uma casa onde os soldados tomavam banho quando o combate dava uma trégua.

Os alemães, no entanto, estavam atentos a tudo. Quando viam a aglomeração na praça central, os nazistas derramavam pesados bombardeios sobre a localidade.  

“A gente corria se abrigar naqueles prédios já praticamente destruídos. Muitos morriam nesses ataques. Eu me lembro de dois americanos num Jeep. O que conduzia o veículo levou um estilhaço no pescoço e caiu morto sobre o volante, com a cabeça quase decepada do corpo”, reconstitui no filme.  

Aniversário no front

Edmundo Trench foi para a linha de frente em 6 de fevereiro de 1945 em Monte Castelo, quando a região era açoitada pelo frio e pela constante artilharia das tropas alemãs. “Eu guardo bem porque era o meu aniversário”, diz o pracinha, que completava 26 anos na ocasião.

Nem por isso a missão se tornaria menos desagradável. Trench atuava na Companhia de Petrechos Pesados, encarregada do uso de metralhadoras de calibre 50 e morteiros de 81 milímetros.

Sua função era atacar posições defensivas do inimigo, crucial para o avanço aliado, operação que o pracinha chamaria mais tarde de “batismo de fogo”.

A rendição alemã não colocou fim ao drama do brasileiro, uma vez que a guerra no Pacífico ainda não havia sido liquidada.

Trench e outros companheiros ficaram aguardando ordens, sem saber se voltariam ao país de origem ou seriam enviados para lutar no Japão.

Ironicamente, as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki e a consequente capitulação dos japoneses favoreceram o avareense, que pôde, enfim, voltar à terra natal. 

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