Especial

Bombeiro de Avaré relata experiência no RS: “Ficou só o contrapiso das casas”

Subtenente Fabiano Avila atuou na busca por desaparecidos na maior tragédia climática já enfrentada pelo estado gaúcho

Flávio Mantovani*

O subtenente Fabiano Crivelli de Avila custou a crer no que via quando chegou a Lajeado, cidade do Rio Grande do Sul afetada pelas fortes chuvas de abril e maio.

Lotado no Corpo de Bombeiros de Avaré, Avila fez parte da equipe que a corporação de São Paulo enviou para auxiliar na busca por desaparecidos após o evento climático que devastou o estado gaúcho.

Não se tratava de um alagamento como os vistos na capital Porto Alegre e em Canoas, onde a água foi tomando conta da zona urbana. Apesar dos danos e perdas irreparáveis, a cidade continuava ali quando o rio recuou.

O caso era outro. O Rio Taquari subiu 26 metros em Lajeado. A imagem da Havan quase submersa dá uma ideia de até onde as águas chegaram. Imóveis localizados às margens do rio foram arrastados.

Já Arroio do Meio, também localizada na Vale do Taquari, foi praticamente varrida do mapa. A água desceu a serra com muita força, arrastando tudo pelo caminho. A dimensão do estrago impressiona até mesmo quem está acostumado a esse tipo de situação.

“Ficou só o contrapiso das casas”, conta Avila em entrevista ao Jornal A Comarca. “Muito animal morto, muita roupa espalhada. A gente via destroços no topo das árvores e no pasto a 3 quilômetros do rio. Surreal”, resume o bombeiro.

Subtenente Avila durante trabalho no Rio Grande do Sul

Busca por desaparecidos
O subtenente Fabiano Avila desembarcou no Rio Grande do Sul no dia 21 de maio junto com outros 41 bombeiros de São Paulo. A missão: buscar desaparecidos. Arroio do Meio tinha 28 pessoas nessa situação naquele momento.

Mas os obstáculos eram muitos. Como as pessoas foram arrastadas pela enchente, os bombeiros tinham que vasculhar uma área gigantesca.

Estradas sumiram, o que dificultava o deslocamento. Chuva, lama e destroços dificultavam as buscas. Frio desafiador.

Foram 11 dias de trabalho. A equipe chefiada por Avila encontrou 13 corpos. Alguns estavam a 15 quilômetros de distância do local de origem.

Avaré tem uma tropa especializada em resgate aquático devido à Represa Jurumirim, além de equipamento específico para esse fim. Isso foi determinante para que um profissional da cidade fosse incluído no grupo enviado pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo.


Equipe que atuou na busca por desaparecidos na região de Lajeado

“Novo normal”
Para o bombeiro, a situação do Rio Grande do Sul se difere das outras tragédias em que ele atuou, como a de São Sebastião. No início de 2023, o litoral norte de São Paulo foi devastado pelas chuvas que deixaram 64 mortos.

No caso de São Sebastião, as vítimas estavam num local específico e o trabalho de resgate ficava concentrado naquela área delimitada.

“Você ia para os arredores e tudo voltava à normalidade. No Rio Grande do Sul é diferente: 80% do estado sofreu com as águas”, resume o profissional sobre a maior tragédia climática já enfrentada pelo estado.

“Não sei como vai ser a reconstrução, como as pessoas vão voltar à sua vida normal, ou melhor, ao novo normal, porque há lugares que não existem mais”, resume o subtenente do Corpo de Bombeiros de Avaré.

O Rio Grande do Sul registrava 172 mortos e 44 pessoas desaparecidas em decorrência das chuvas até a conclusão desta matéria.

*Texto originalmente publicado na edição nº 1526 do Jornal A Comarca de Avaré (SP).

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