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“Preservar a história é uma missão”, diz documentarista

“Preservar a história é uma missão”. Com essas palavras, o empresário Cláudio Albuquerque define a motivação que o levou a produzir por conta própria em 2009 o documentário “Avareenses: Heróis de Guerra”.

Ex-integrante da antiga Guarda Mirim, da qual foi instrutor dos 14 aos 17 anos, e recruta do Tiro de Guerra em 1974, o pesquisador que sempre foi fascinado pelo universo militar disse ter encontrado uma lacuna em relação à história dos ex-combatentes avareenses, segundo ele fruto do descaso local com o passado.

Com o diagnóstico em mente, uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, ele inicialmente produziu um vídeo com os pracinhas Rufino Gomes e Pedro Mariano da Silva. O filme intercala relatos de passagens no front com uma narração que expõe o contexto histórico do período.

O documentário, que se converteu num inédito registro em vídeo sobre pracinhas locais, está disponível no You Tube. Pouco depois, o empresário colheu o relato de Edmundo Trench e teve acesso a uma entrevista de Nicola Cortez Neto concedida ao Exército. Em sua segunda versão, o filme reúne apenas as falas dos quatro avareenses, sem narração.

A batalha de Albuquerque contra o esquecimento também se dá em outros flancos. Proprietário da Brigada Avareense de Viaturas Militares Antigas (BAVMA), ele botou a caravana na rua atrás de um desfile do Tiro de Guerra em 2010 mesmo sem ser oficialmente convidado. Na boleia de um deles, o pracinha Rufino Gomes. A estratégia surtiu efeito e o acervo acabou incorporado aos eventos militares.

Já em 2013, o empresário organizou sozinho a comemoração do Dia da Vitória no Largo São João, celebrado em 8 de maio, dia que marca a rendição alemã. A apresentação reuniu veículos e outros itens de sua coleção pessoal, como armas e peças utilizadas no conflito. Desde então, o município passou a lembrar a data.

Além de estabelecer contatos com grupos de diversos estados que mantêm veículos militares e procuram preservar o legado brasileiro na 2ª Guerra Mundial, o interesse pela história o levou à Europa em maio deste ano, quando foram comemorados os 70 anos da vitória aliada e da participação da FEB no conflito. Em 2014, o empresário já havia participado das celebrações das sete décadas do Dia D e feito um documentário sobre a passagem decisiva ocorrida na França.

As solenidades atraíram interessados de todo o mundo, inclusive cerca de 120 brasileiros, e incluíram roteiros em cidades italianas como Montese, Pistoia e Monte Castelo, localidades onde a atuação da FEB foi determinante.

O caso de Montese, libertada em 24 de abril de 1945 depois da expulsão de alemães por brasileiros após uma sangrenta batalha urbana, impressionou Claudio Albuquerque. “O brasileiro é visto como libertador. As crianças cantam o Hino do Expedicionário em português e desfilam com as bandeiras do Brasil e da Itália. Não tinha noção da magnitude desse reconhecimento”, relembra o empresário, que revela ter “desabado” ao presenciar a cena.

Encenações de batalhas e desfiles de comboios em cidades da região também integraram as comemorações, que contaram com a presença de seis pracinhas brasileiros, além do general Villas Bôas, comandante do Exército, e de outras autoridades de ambos os países.

Outro momento destacado pelo empresário foi a visita ao cemitério em Pistoia, onde estão os nomes dos 465 brasileiros mortos em combate. Os pracinhas foram homenageados pelo Exército italiano com coroa de flores e o “Toque do silêncio”. Entre eles Sérgio Bernardino, único avareense a perecer em solo italiano. “Encontrei a pedra com o nome do Sérgio cheia de ramadas e restos de vegetação”, conta o empresário, que limpou o local com as mãos e fez um registro fotográfico da lápide.

Firme com a proposta de dar sua contribuição por meio da organização de exposições, da participação em encontros e da realização de palestras em toda região, Claudio Albuquerque diz que seu objetivo é estritamente cultural e histórico.

“As pessoas me perguntavam se eu gosto de guerra. Absolutamente não. Guerra é uma coisa horrível, algo que não tem sentido, uma besteira total. O que a gente quer é mostrar o que aconteceu para que as pessoas vejam que não se deve fazer a guerra”, finaliza.

Fonte: Jornal A Comarca

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